terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Para minha mãe.

O ciúme
Caetano Veloso

Dorme o sol à flor do Chico, meio-dia
Tudo esbarra embriagado de seu lume
Dorme ponte, Pernambuco, Rio, Bahia
Só vigia um ponto negro: o meu ciúme

O ciúme lançou sua flecha preta
E acertou no meio exato da garganta
Que nem alegre nem triste nem poeta
Entre Petrolina e Juazeiro canta

Velho Chico vens de Minas
De onde o oculto do mistério se escondeu
Sei que o levas todo em ti, não me ensinas
E eu sou só, eu só, eu só, eu

Juazeiro, nem te lembras desta tarde

Petrolina, nem chegaste a perceber

Mas, na voz que canta tudo ainda arde

Tudo é perda, tudo quer buscar, cadê?

Tanta gente canta, tanta gente cala

Tantas almas esticadas no curtume
Sobre toda estrada, sobre toda sala
Paira, monstruosa, a sombra do ciúme




Um comentário: